VIOLÊNCIA COMO CONSTANTE ANTROPOLÓGICA
02/05/2012 01:35
Os fantásticos avanços humanos, técnicos, científicos e iluministas revelam um paralelismo constante de derramamento de muito sangue.
O discurso de que a educação seria capaz de superar a prática de atos violentos entre os seres humanos, mostra-se decepcionante, pois, o dinamismo pedagógico nos horizontes do sistema capitalista é gerador de profundas desigualdades, e que, por sua vez, desperta novos processos de violência. A educação tem mostrado pouca eficiência na capacidade de regenerar os seres humanos para características menos violentas.
A violência humana revela-se em muitas dimensões: a) quanto à natureza – ocorre pouca preocupação para reverter uma rota de destruição do sistema necessário às condições da vida. O armamentismo, as grandes guerras e todo o arsenal bélico nos fazem antever outras guerras, genocídios, tão ou mais cruéis quanto os dos últimos séculos. Mesmo esta memória não sensibiliza para despertar as mentes humanas para um futuro de menos violência; b) quanto às relações pessoais - não se consegue vislumbrar um horizonte auspicioso a partir de arrependimentos das violências praticadas. As muitas terapias que tentam reorientar as tendências mórbidas para a prática de violências também não atingem as fontes da violência, pois não conseguem mudar a cultura; c) quanto à genética – as manchetes das possibilidades de atuação no código genético para evitar predisposições que levem às condutas desviadas, não indicam boas soluções porque as violências parecem originar-se muito mais da cultura do que da genética; d) quanto à cultura – constata-se que sua marca dominante é da violência; seja na ironia ante o diferente, no ataque verbal e escrito ou o simbólico de todas as regras e artes. Nelas aparece como uma constante a violência, que se manifesta, sobretudo, pelo Estado e pelas organizações jurídicas porque se impõem com verdadeira brutalidade sobre os membros da sociedade. Basta lembrar somente o horizonte das exclusões e das negações... Até dos que pretendem controlar as ameaças de violência originam-se atos violentos. O combate de uma violência automaticamente gera mecanismos de revide e de outra violência, seja física ou simbólica.
Ao lado dos desejos e das expectativas para uma convivência de paz e de entendimento vemos que muitos seres humanos se tornam agressivos precisamente na luta para o alcance destas metas. Muitas regras estabelecidas e aceitas, sem maior questionamento, também induzem a atos violentos, até mesmo os sexuais: “se considerarmos as relação sexual, não poderemos negar sua estrutura básica „agressiva‟. A sexualidade, com „ fato bruto‟, mas também as suas transformações eróticas são inconcebíveis sem um fundamento agressivo de desejo. Mas este fundamento está sujeito a constantes e profundas mudanças culturais”.13
Como o simples ato de falar já é fonte indiscutível de violências, a fala dos poderosos também tende a constituir-se em fonte maior de violência do que a reação dos oprimidos. Muitas situações da vida nos levam à dolorosa experiência de que as palavras podem matar. Por isto, cabe a pergunta: podemos eliminar violências humanas sem outras violências?
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