O Simbólico e o Diabolico

02/05/2012 01:12

Na vida pessoal, coletiva e também na vida da Terra, no universo, move-se o jogo de duas forças contrárias, chamadas de dialéticas, ou, no qual uma interage sobre a outra. Enquanto a vida se mobiliza para fatores de agregação, ocorre, simultaneamente, a ação de forças dispersivas. É o que Leonardo Boff expressou através dos termos “sim-bólico” e “dia-bólico”.
Simbólico significa ajuntar, agregar e fazer convergir. O termo também equivale ao sinal que distingue alguém, ou algo, de outras coisas. Por exemplo, uma camiseta de um time de futebol, ou a logomarca de uma empresa, constitui sinal simbólico para identificar os membros que os representam, sejam religiosos, esportivos ou comerciais. Através do sinal simbólico conhecido, facilmente identificamos traços específicos de agregação de grupos sociais, por razões das mais variadas.
Diabólico é tudo o que desagrega, desune, separa e desconecta. Numa relação matrimonial, ou qualquer outro processo de aproximação entre pessoas para toda espécie de alianças ou negociações – que representam forças simbólicas – atua, paralelamente, um processo próximo e parecido de fatores que levam a rupturas, desencontros, inimizades e discordâncias. Basta observar nosso mundo social: junto aos enormes empenhos para a harmonia e unidade, ocorrem incontáveis processos inversos e adversos que tendem para rupturas, exclusões e tentativas de morte, por guerras e outras ameaças.
O bom deste embate de forças contrárias é que até hoje, nunca uma chegou a anular a outra de forma absoluta. O equilíbrio nem sempre agradável e nem sempre fácil é um jogo que dá dinamismo à vida.
Leonardo Boff salienta que o diabólico e o simbólico são princípios que estruturam não apenas as relações humanas e sociais, mas também a natureza e o cosmos. A natureza, por exemplo, apresenta, de um lado, fenômenos de agregação, associação, interdependência e complementariedade, enquanto que, simultaneamente e, por outro lado, faz eclodir imensas forças de caça, destruição e morte em grandes proporções, como os causados por vulcões, terremotos, maremotos, choques do planeta com meteoros, etc.
Esta luta dialética ultrapassa as dimensões do nosso quadro humano e se revela na disputa de espaço de sobrevida das plantas e dos animais. Trata-se de uma disputa frenética, envolvendo mecanismos de salvação e de morte ao mesmo tempo. Com relação às plantas, não é diferente. Ocorrem disputas ferrenhas entre terra e água, entre seres machos e fêmeas, enfim, ao lado da busca de beleza e da harmonia, atua uma grande voracidade que leva à destruição e morte.
Voltando à nossa condição humana, podemos ainda constatar que a busca de equilíbrio diante dos incontáveis riscos e mecanismos de morte, aponta para um extraordinário desvelo em favor de nascimentos, sonhos e esperanças que deles podem emergir. A nossa querida mãe Terra também apresenta esta contradição: de um lado fornece vitaminas, sais, aminoácidos, fibras, carbo-hidratos e muitos outros elementos vitais, mas, de outro lado, produz toxinas, bactérias e formas de vida que atentam radicalmente contra a nossa existência.
Mesmo que a inteligência humana tenha dado passos gigantescos e fantásticos para melhorar a qualidade de vida, de saúde e de sobrevivência no Planeta, esta mesma inteligência produziu armas incontáveis e sofisticadas para matar sistematicamente seres humanos que, violenta ou pacificamente, querem viver e ser felizes.
A nossa condição humana, riquíssima pela produção artística, científica, técnica, religiosa e cultural, não consegue esconder esta escancarada contraposição de polarizações, mobilizadas entre o melhor e o pior. Enquanto, de um lado, se produzem gestos de extraordinária grandeza humana, outros são de degradação destes mesmos alcances. São forças de transformação e de superação, convivendo com forças entrópicas e de exterminação. Este jogo diabólico e simbólico também pode ser constatado em nossos processos psíquicos e emocionais, ao lado da sua manifestação na Terra e no universo. Estaríamos, pois, fadados a este determinismo?
Boff salientou algo muito importante: “O sim-bólico haure forças do dia-bólico. É a nossa esperança”.8
Em outras palavras, o anseio pelo humano emerge do mundo tenebroso, pois, necessitamos transformar forças diabólicas em forças simbólicas para continuar a viver e, ainda, na tarefa de redimir a humanidade e a natureza que nos envolve.
 

Voltar
Crie um site grátis Webnode