A VIOLÊNCIA HUMANA

02/05/2012 01:30

Trata-se de um tema extremamente difícil. Dada a sua amplitude e as variadas formas em que aparecem violências humanas, cabe até mesmo uma pergunta cabal: é possível dar uma resposta mais adequada do que aquelas que as ciências e as explicações religiosas forneceram até o momento?
A dificuldade de delimitação nasce da variedade de violências que se cruzam nas relações humanas. Podem ser físicas como as de bandidos, assaltantes e policiais; ou mesmo as que ocorrem nas famílias, em grupos, comunidades e relações internacionais. Mesmo esta variedade de agressões pode variar entre formas psicológicas, simbólicas e morais, e ainda, podem ser as que provocam fome, extorsão abusiva, descaso, roubo, homicídio, etc.
Seguidamente nos envolvemos em situações nas quais sentimos pessoas agredidas vivenciarem medos, traumas, pânicos e outros mecanismos de perturbação emocional. De modo geral, tendemos a pensar a agressão como manifestação em que nos sentimos vítimas. No entanto, há também outro lado, o de que nós que nos interpretamos não agressivos, também enfrentamos ímpetos de raiva, de ódio, de vingança e de outros descontroles que levam a ameaçar e até a atentar contra a vida de outras pessoas. Da nossa parte, também decorrem sadismos que implicam em sentir certa intensidade de prazer quando outros fracassam ou são agredidos. Ao lado deste traço, temos facilidade de apelar para punições e castigos, sejam os prescritos em códigos de justiça ou os que nós mesmos inventamos. Até mesmo em muitas manifestações religiosas um forte sadismo se expressa quando se espera que Deus execute a tarefa da vingança em nosso lugar.
Considerando apenas estes dois aspectos, a violência que vem dos outros e a que resulta da nossa parte, dá para acreditar que possamos ser não agressivos?
Segundo Darwin, somos agressivos porque herdamos este traço dos animais. Como eles, também nós seres humanos estaríamos agredindo porque estamos mergulhados na luta pela sobrevivência e, nesta disputa sempre ocorre uma relação de fortes e de fracos. Entretanto, não existem animais que cooperam e que levam vida coletiva? Seria isto apenas um instinto de auto-defesa? Nós, de fato, não temos o veneno de certas cobras perigosas e nem garras ou dentes afiados como certos animais. No entanto, somos capazes de potencializar estas formas através de nossos inventos e de armas de destruição que utilizamos com toda facilidade. Apesar disso, porque somos agressivos?
a) Um dos elementos de nossa agressividade está relacionado aos nossos interesses. Como estes interesses estão sendo re-criados, estimulados, e justificados, o planeta Terra está longe de oferecer tanto quanto os seres humanos desejam. Se desejos quase infinitos provocam desrespeito das regras estabelecidas e aos mecanismos de controle social, seria isto culpa do Estado que não regula os limites dos interesses? E, se tivesse tal capacidade, como iria conter as cargas de frustração que este controle geraria e as conseqüentes formas agressivas resultantes deste controle?
Esta situação já é suficiente para nos apontar que um governo forte e uma rigorosa legislação ainda não significam erradicação da violência humana, especialmente se pensamos a vida nos espaços urbanos porque ali naturalmente vão sendo gerados grupos marginais e fora do âmbito das leis estabelecidas.
b) Se nos pensamos totalmente distintos do mundo animal, ou se nos pensamos filhos do mundo animal, mas dotados da positividade dos traços de cooperação, como explicar tanta injustiça e agressão entre grupos humanos?

Mesmo que sustentamos nossa natural predisposição para simpatia, para a compaixão, para o entendimento ou da racionalidade que deve prevalecer para que possa haver convivência pacífica, seria possível uma sociedade sem violências?
c) Caso assumamos o ponto de vista do pensamento cristão, que aponta perdão como caminho de comunhão e de solidariedade e entendimento, quem é que propiciaria uma possível condição de paz e harmonia: o rigor das autoridades, ou a submissão á instância divina? A história nos ilustra que muitos argumentos autoritários, mesmo religiosos, apelaram para os castigos e para as retaliações divinas sobre os infratores das regras estabelecidas. E quando estas regras já são caducas, como significam violência, até mesmo da parte de quem, em nome de Deus, quer implantar a ordem e a paz!
Precisamos necessariamente reconhecer que toda a história do pensamento cristão nunca esteve imune de situações de agressão e violência, seja na relação com outras formas de expressão religiosa ou na relação do interior da própria organização da Igreja.
Estes três aspectos permitem formular uma pergunta sobre as raízes mais distantes da agressividade humana: ela é marca registrada da criação?
Se nos reportamos ao referencial bíblico, aparece ali a noção de que a criação foi um ato de bondade e que veio a ser depravada pela fraqueza humana. Ou começou a criação numa situação caótica e que, com a ação redentora de Jesus Cristo nos redime aos poucos? E os que não estão neste projeto, podem restaurar-se por meio do amor e da justiça? Uma interpretação possível é a de que somos agressivos por natureza, mas, que podemos redimir-nos pela graça que Deus nos oferece. Mas quem não entra nesta estrutura salvadora, teria a perspectiva de ameaçar com atos agressivos? Ou seria a agressividade, apenas um fruto da desigualdade social?
Toda a evangelização, toda a boa vontade e todos os atos empreendidos para diminuir a desigualdade social, ou movidos pela graça de Deus ou pela iniciativa humana, ainda não deram passos definitivos para erradicar a agressividade humana. Mesmo que bruxas foram queimadas e tantas outras pessoas foram condenadas à morte, com vistas a se estabelecer a paz, geralmente acirraram outras manifestações de violência iguais ou piores.
A apregoada emancipação humana, segundo a sustentação clássica do Iluminismo também não nos leva a sonhos mais fáceis de suplantação da agressividade, porque o próprio Iluminismo gerou extraordinárias formas de violência.

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