A VIOLÊNCIA DA RELIGIÃO
02/05/2012 01:53
Quanto ao fato de constatar religiões envolvidas em manifestações hostis e de violência variada, não restam dúvidas. A questão de interesse, todavia é a de saber se a religião é violenta por natureza ou se são pessoas que manipulam a religião para fins violentos.
A existência das variadas religiões, grandes e pequenas, não conseguiu, até hoje, eliminar a violência da condição humana. Isto ainda não significa que a violência seja elemento constitutivo da religião.
Mesmo que a maioria das guerras, senão todas, t4enham nas raízes motivações religiosas ou interesses de grupos religiosos, a religião possui um enorme potencial de elementos para diminuir, restringir e superar as violências. Muito disso depende de quem está na liderança de agremiações religiosas. O cristianismo ostenta um belo exemplo, pois, das suas origens até o século IV não conciliava religião com guerra. Infelizmente, poucas correntes religiosas cristãs mantiveram este princípio.
Por que a religião acaba, então, envolvida em violências?
Em primeiro lugar, os seres humanos têm a capacidade de cultivar, em nome da religião, violências, quer por tendências fanáticas, fundamentalistas ou inovadoras. Nesta perspectiva uma religião pode incrementar e estimular o desencadeamento de guerras ou atrocidades. Mais do que isto, convém lembrar que a religião também é afetada pela estrutura da organização humana e que se revela altamente violenta. Muitas leis humanas levam a violências porque são injustas, outras, porque são coercitivas, repressoras e aterrorizadoras. Significa, portanto, que a causa das violências está além das religiões e, pelo menos em nosso contexto cultural dependem muito mais do sistema capitalista que se mundializa do que por deficiência congênita da religião.
O sistema capitalista é gerador de um duplo modo de violência: pela repressão e por levar indiretamente à morte grande parte do gênero humano pela pobreza que causa, matando, aos poucos e de forma quase silenciosa.
Ao lidar com as pessoas nos moldes capitalistas, a religião pode solidificar fundamentalismos políticos e econômicos que ajudam a massacrar outros seres humanos. Este risco aumenta na medida em que a religião se presta para manipular e sustentar procedimentos injustos.
Mesmo que a orientação capitalista não se oriente por valores religiosos, pode contar com a ajuda de aliados provenientes de grupos religiosos e melhor justificar barbáries em nome de Deus e da paz. A religião se presta, pois para uma sustentação ideológica da violência.
A religião tampouco causa o fundamentalismo político e econômico do sistema capitalista, mas pode prestar-se muito bem para esta justificação.
Em segundo lugar, a religião, ao lado das demais buscas humanas contra a violência, precisa vencer a adoração do ídolo da riqueza que a torna conivente nos mecanismos de violência que decorrem das buscas de riqueza.
Por isto, ao desejar associar-se aos movimentos da não violência, a religião precisa lidar com os grilhões causadores da violência. Para John Sobrino, “se isto não for feito, é inútil, vão e hipócrita criticar a violência que sobrevirá depois”.17 Tal ação não precisa necessariamente ser bélica e terrorista, mas requer que se caracterize por uma postura profética, ideológica, crítica e construtiva.
Como não se vislumbram indicativos categóricos para eliminar a violência, cabe-nos ajudar na humanização da violência, isto é, minimizar os efeitos da violência e ampliar as condições de bem-estar das pessoas que nos envolvem. Do contrário, enquanto nos envolvemos na ideologia da riqueza, impreterivelmente ajudamos a gerar vítimas de violência.
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