A CONSAGRAÇÃO DE LUGARES SAGRADOS

02/05/2012 01:16

Da separação de lugares sagrados e profanos, da contraposição de obras e gestos simbólicos e diabólicos, decorre ainda outra conseqüência polêmica, que é a de consagrar lugares sagrados. Assim, ao se consagrar uma caverna, uma montanha, um lugar pitoresco de uma planície, ou uma Igreja, Basílica ou Catedral, bem como altares e outros espaços similares, quer-se criar um espaço especial para se estabelecer um contato com outro espaço, que é o divino, e estabelecer uma interação. No pressuposto deste ato, está a noção de que sem um vínculo divino este mesmo espaço pode voltar a tornar-se um caos, ou seja, um lugar profano. Por isto, o lugar sagrado passa a ser interpretado como o lugar de relação com o outro mundo. Este sentimento profundamente religioso deixa entender que o nosso mundo é um lugar que tem lugares mais próximos de Deus e que, a partir destes lugares especiais, pode-se atingir o mundo de Deus. O mundo sagrado ou consagrado passa, então, a ser entendido como um lugar mais alto e próximo para um contato com o outro mundo.
Esta relação de lugares sagrados e profanos tem um reflexo diário em nossa vida através da porta. É impressionante como a porta separa mundos, a começar pelo mundo sagrado e profano. Por exemplo, a porta de uma Igreja na cidade separa dois mundos nitidamente distintos. Para uma pessoa religiosa, da porta para dentro é lugar de Deus, que merece respeito e certas posturas que são bem diversas das que são permitidas no lado de fora, no mundo profano. Dali, para a rua ou para a praça, já acontece todo outro jeito de relações humanas. Basta reparar que, muitas vezes, do lado de fora da porta da Igreja estão mendigos, andarilhos e que ali fazem qualquer coisa, desde defecar a relações sexuais, brigas, furtos, assaltos, e, sem maiores constrangimentos.
O que se pode perceber é que um determinado espaço, não implica necessariamente em experiências homogêneas, pois até mesmo para pessoas não religiosas, o lado de fora da Igreja pode ter significados distintos; uns querem cultivar ou contemplar a beleza da praça, outros querem namorar nesta praça e outros se servem deste espaço como lugar de moradia. Um determinado lugar pode ser mais sagrado para um do que para outro, especialmente, quando faz lembrar algo importante que ali aconteceu, como uma bonita festa, uma socialização significativa, uma simpatia, um primeiro namoro, etc. Este exemplo da praça também se manifesta em relação a residências, onde certos rituais, como beijos, continências, prostrações e toques de mão sobre o ombro, etc., servem como indicador de separação para a ida a outros espaços. A separação de sagrado e profano ainda pode ser vista por outro prisma: a relação entre caos e cosmos.

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